quinta-feira, 30 de abril de 2015

O Capitão América dos cinemas não é Liberal! [SPOILER ALERT]

Acabou de sair o novo filme do universo cinematográfico da Marvel (MCU), Vingadores 2: A Era de Ultron. Assistindo a esse filme e aos outros dois filmes do Capitão Amrica (Capitão América 1 e 2) mais o primeiro filme dos vingadores, ficou muito claro para mim algo sobre o personagem que pode parecer bem controverso: Ele não é, ideologicamente, liberal - e, pior, ele é de esquerda!

[SPOILER ALERT!!!]


Primeiro, vale explicar o que é "liberal". Uma amostra mais profunda do indivíduo liberal pode ser lida aqui. Mas, de modo geral, liberalismo é a ideia de que o indivíduo é anterior à sociedade, seus interesses particulares, portanto, são formadores da coletividade e, portanto, a sociedade nada mais é que a combinação das ações particulares e desconexas de indivíduos que atuam o tempo todo para seu próprio proveito - o que, através de uma " mão invisível" gera ordem social e liberdade.

Bom, um dos primeiros indícios de que Steve Rogers (pra quem não sabe, o nome civil do Capitão) não pensa assim é o motivo que ele declara para querer se alistar no exército dos EUA para lutar contra os nazistas. Ele não diz que quer lutar por lutar ou quer garantir a liberdade de seu país simplesmente. Ele quer se sacrificar pelo bem comum. Ou seja, nesse sentido, seu indivíduo não é anterior ou superior à coletividade, mas, sim, parte dela - ele coloca sua liberdade a serviço da coletividade. Prova disso é a cena em que o coronel chefe do projeto do super soldado joga uma granada no meio dos recrutas. Steve Rogers, o futuro Capitão América, não foge e se protege como os outros. Ele usa seu corpo para abafar a explosão da granada (que não explode). Ou seja, ele, para proteger seus companheiros e sua missão coloca sua própria vida em risco - sua existência como indivíduo se submete à necessidade da coletividade, de outros indivíduos.

Outra demonstração disso é no primeiro filme dos vingadores, quando ele discute com Tony Stark, o Homem-de-Ferro (um burguês), sobre a moral de Tony. Ele responde a Steve sobre si mesmo dizendo suas características individuais. Se para os outros personagens isso faz dessa uma boa resposta, o capitão simplesmente não se abala. Ao contrário, ele diminui o valor de Tony justamente por colocar seus interesses e pensamentos acima da coletividade, questionando que Tony não se sacrificaria por ninguém.

Essa cena é um claro enfrentamento entre a concepção liberal de indivíduo e de seu valor em relação à concepção do capitão. O capitão não se importa com as qualidades específicas de Tony - ele não as desconsidera, nem as enobrece - a questão que ele coloca a Tony é: e o que VC faz com o que você é? Na cabeça do capitão, é isso que dá valor ao indivíduo, o propósito para o qual ele usa suas capacidades e sua liberdade - num estilo sartriano.

Ao contrário do que os liberais radicais diriam, isso não implica em que o capitão seja autoritário.
Em todos os filmes em que ele aparece (exceto em Vingadores 2), ele desobedece as ordens de seus superiores em prol de, através de suas ações, proteger os outros, a coletividade. Logo, ele tem um papel como indivíduo livre, ele não é submetido à ordem que "representa" o bem comum. Ele se responsabiliza por fazer o que acha certo e questionar as autoridades sobre o que está sendo feito. Ele chega até mesmo a usar seu prestígio para fazer os agentes da SHIELD se rebelarem contra suas chefias quando a HYDRA, infiltrada na SHIELD ameaça a liberdade dos indivíduos com armas capazes de atacar qualquer pessoa do planeta.

Aliás, a posição do capitão, logo no início de seu segundo filme, quando ele demonstra ser contra o uso de armas desse gênero demonstra que, para ele, a coletividade não é uma forma que deve suprimir os indivíduos. O Estado não deve ter o poder de vigiar todos os indivíduos. Os indivíduos devem ter sua liberdade assegurada pelo Estado e não o contrário. Ele chega a enfrentar a SHIELD (sem saber que era tudo um plano da HYDRA) para impedir que a agência controle a "segurança" do mundo de maneira tão colossal.

Um último momento fundamental para se entender que o Capitão América não é liberal, é o embate entre ele e Tony Stark sobre a atitude de Tony de criar Ultron sem avisar aos colegas de equipe. Steve não se posiciona quanto à necessidade ou não da criação de Ultron. A discussão dele com o Homem-de-Ferro é de método. Tony, como um bom burguês, acredita que pode e deve fazer o que acha melhor com seus recursos particulares independente das opiniões dos outros. Ele simplesmente faz o que quer. O capitão questiona que eles deveriam fazer Ultron, se fosse o caso, juntos. Ou seja, uma decisão coletiva. Ele inclusive coloca que eles poderiam ter ajudado a conter Ultron se eles soubessem do projeto. Ou seja, essa deveria ser uma ação coletiva. O coletivo está unificado com o indivíduo. Tony teria toda liberdade de propôr e até dirigir o projeto, mas isso deveria ser feito segundo uma decisão coletiva; e mais: aprovada a decisão coletiva, o coletivo daria suporte ao projeto individual de Tony. Ou seja, o indivíduo conserva a liberdade, a condiciona ao coletivo e o coletivo se volta para dar suporte à liberdade do indivíduo, garantindo-a e potencializando-a ( a equipe poderia ajudar Stark a fazer o seu projeto de maneira mais segura).



Essencialmente, Tony segue a lógica liberal de fazer o que se quer e Steve Rogers responde com a lógica não da direita, mas da democracia operária.

É mera coincidência que essa seja forma de pensar do personagem, afinal, ele é ficcional. Mas é interessante perceber que ele se mantém coerente ao longo do desenrolar dos eventos do MCU. E, mais, ele é coerente com sua origem social: um jovem filho de trabalhadores defendendo a democracia operária. Tony, como burguês, representa o melhor pensamento liberal... E a HYDRA, o pensamento fascista.

Isso tudo faz do MCU uma grande jóia da arte pop contemporânea,  produção nerd de alto nível de realismo, mesmo tratando de algo claramente inumano: super-heróis. Parabéns Marvel.




Um comentário:

  1. Moça, você não sabe nada sobre o assunto.
    Eu sei que é mais fácil continuar se baseando no "Achismo" e em "Textos rápidos" da internet, mas vou deixa o link de um livro. (é um livro acadêmico, mas tudo tem uma primeira vez, encare o livro acadêmico)

    http://goo.gl/PYM31r

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