quinta-feira, 26 de junho de 2014

Maturidade Política

Somos todos sujeitos políticos, em maior ou menor grau – é condição de nossa existência, que é social. No entanto, alguns se organizam, se movem, e mobilizam outros, para atuar politicamente, de maneira mais ativa – são os ativistas e militantes. É para essas pessoas, centralmente (mas não só), que esse texto se direciona.

Atuar politicamente não é fácil, especialmente num país como o nosso em que não há uma tradição forte de militância sobrevivente em massa. O que temos são alguns grupos que ainda se propõem a atuar politicamente para além do âmbito meramente do Estado e de seu jogo sujo. Por isso, no Brasil, é especialmente difícil se conseguir maturidade política.

Sem apostar numa pretensa sabedoria superior, venho aqui humildemente contribuir com a minha visão de uma maturidade política, coisas que aprendi com a minha militância e que acho que podem ajudar outras pessoas nos tortuosos caminhos da política. Espero que sejam de valia para vocês.





Política não se faz com o coração nem com o estômago, se faz com a cabeça – e fria. Divergências não são declarações de guerra e críticas não são espadadas... mas espadadas também não são simples críticas. Nem todo mundo que discorda de nós é nosso inimigo político. Inimigo político é quem tem uma política que, de maneira geral, organiza a sociedade contra a sua proposta. Se uma pessoa é mais retraída politicamente que nós ou é mais exagerada, ela não é de um inimigo – é de um aliado que está errando. Não é por que não gostamos do que ouvimos que devemos ficar putos e impor condições para alianças – as condições para alianças têm que se dar numa base programática, para que a aliança sirva para fazer nosso projeto de sociedade caminhar para frente e não para trás, mesmo que caminhe num ritmo mais lento do que gostaríamos. Mas também nem todo mundo que está lutando por coisas parecidas com as nossas são aliados até a última instância – existem sim oportunistas, pilantras, carreiristas... mas eles não são todo mundo, nem inexistem.


Ninguém escolhe de onde veio. É sempre possível se arrepender dos erros do passado e tentar compensar uma posição social privilegiada – é necessário rever privilégios, abdicar deles e aceitar humildemente as consequências dos atos anteriores e os esclarecimentos de quem vive uma situação desprivilegiada que desconhecemos. Nem todo mundo que reproduz um privilégio é inimigo – às vezes só não teve ainda as condições de repensar o que vive (apesar de isso não ser a maioria dos casos). Nem todo mundo que faz merda está querendo foder com todas as coisas – às vezes tomamos políticas erradas, nos arrependamos delas ou não.



Nossos projetos político-sociais não se realizarão amanhã, mas também não estão fadados ao fracasso necessariamente. Se estamos baseando nosso projeto em uma análise racional, crítica e historicamente fundamentada da sociedade, devemos confiar nesse projeto e saber que derrotas acontecem e acontecerão – e, quanto mais revolucionário nosso projeto, mais derrotas teremos. Nem sempre o momento é oportuno para ganharmos pessoas para nossas posições – e isso não quer dizer abdicarmos delas; é preciso que analisemos a realidade, a conjuntura e saibamos esperar e ser minoria, mesmo que possa ser por muito tempo. Não podemos tratar como se tivéssemos que nos desesperar com cada oportunidade que surge – outras oportunidades haverão; talvez não tão boas, mas haverão. Nem sempre vencer é adiantar nosso projeto político-social – às vezes perder é demarcar posições e criar o espaço para uma vitória posterior. Mais importante que ganhar para nossas posições, às vezes, é saber onde há unidades que podem ser construídas.


Atuar sozinho pode ser positivo ou negativo, dependendo no que se acredita e quais condições temos com os outros que estão ao nosso redor. Mas, de maneira geral, agregar e organizar é melhor. Unir a esquerda sob um acordo programático (mantendo as divergências e discutindo-as) é mais produtivo do que sair sozinho para defender tudo que se quer. Atuar num partido/movimento/coletivo democrático em que se possa organizar outras pessoas discutindo as propostas que se faz, mesmo que se tenha divergências, é mais produtivo do que atuar sozinho. Sozinhos nosso poder de atuação é menor que a atuação organizada. Claro que nossas alianças e filiações devem se dar ante o estabelecimento de concordâncias concretas, que se baseiem nos acordos programáticos possíveis de forma que seu projeto político-social possa caminhar, mesmo que num ritmo mais lento. É sempre melhor caminhar junto de maneira mais lenta do que mais rápido sozinho – essa última postura levará invariavelmente à destruição. Receber apoio de quem muitas vezes não está diretamente ligado com a sua realidade, também é fundamental. E conseguir o apoio das massas é crucial para qualquer luta.


Entender a conjuntura internacional e partir dela para o local, é mais lógico e racional do que pensar a sua realidade específica como se fosse deslocada da realidade em geral – mesmo que sirva para que você perceba, depois, que na verdade a conjuntura local é contraditória com a geral. Acreditar em grandes figuras nos deixa vulneráveis à ação da burocratização e dos defeitos delas. O que constrói a história e as políticas de governos e autoridades é uma combinação de conjuntura, interesses político-econômicos e relação com as massas. Nenhum governo aplica políticas positivas por que é mais “bonzinho” ou “consciente” que outro – mas sim por que as influências e pressões sociais levaram as várias instituições sociais e estatais a fazer aquela política ser aplicada. Um governo “bonzinho” e “consciente” pode aplicar políticas terríveis por que a estrutura conjuntura-interesses-massas as impõe; e governos escrotíssimos podem aplicar políticas extremamente positivas pelo mesmo motivo. Nosso papel está em movimentar a teia de relações sociais que determinam essas políticas, muito mais do que “eleger a pessoa certa”.


Essa foi minha contribuição. Tentei que ela servisse para grupos e indivíduos para além dos socialistas revolucionários. Espero que tenha ajudado.

Mas e você, o que acha?

Até mais, galera! Vontade e Sabedoria na Guerra!

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