quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sobre o acontecido na Pratique Poliamor Brasil

Nesta semana, após muitas reclamações dos membros do grupo Pratique Poliamor Brasil sobre o (ex) membro, Wellington Lima Amorim, ele foi, após alertas particulares da coordenação sobre seu comportamento, devidamente excluído do grupo.

Após essa exclusão, ele fez uma verdadeira campanha através de mensagens no facebook, de desmoralização do grupo e de seus membros para várias das pessoas que ele havia adicionado (sem conhecer) do grupo (a mais sabe-se lá quem).

Esta mensagem, além de criticar o grupo, cita especificamente meu nome como exemplos de "militâncias de esquerda" que ele repudia e veio dizer que "são familiares meus, mas também são pessoas que podem muito bem diagnosticar militâncias de extrema esquerda, radicalismos e discriminação”. Ainda, falando de mim, citou uma pretensa frase minha: “Eu não tenho problemas em matar várias pessoas, eu sou um revolucionário, um marxista orodoxo" como justificativa de sua preocupação, e, ainda “Ele por acaso é das Farcs?”. Ao final, deixarei um link para uma nota com a reprodução literal de sua mensagem.

Esclarecendo, não sou um dos que veio reclamar da conduta dele, apesar de não ter gostado do pouco que vi. Nossas divêrgencias eram basicamente ideológicas e, nesse sentido, não haveria motivo para querer recriminá-lo ou excluí-lo (mesmo sendo administrador do grupo). Logo, obviamente ele me cita não por uma desavença pessoal, mas por um critério de acusação política, de perseguição política.

Primeiramente, esclareço que sou sim um Marxista Revolucionário e, excetuando em alguns trabalhos, nunca escondi isso de ninguém – está bem claro e explícito para quem quiser ver no meu perfil no facebook ou em qualquer conversa, mesmo que eu não conheça a pessoa. É a minha opinião política e não tenho vergonha dela. Sou sim radical e sim, defendo o uso da violência.

Mas, como bom marxista que sou, tudo que defendo é instrumental, é voltado para e limitado por algum objetivo. Para mim, a vjolência não é um valor, é um instrumento de auto-defesa de classe. Já hoje temos muitos casos de repressão policial a atividades pacíficas (USP, UFF, Bombeiros do Rio, Professores de vários estados, etc) e mesmo ataque de mercenários e membros de grupos politicos aos movimentos sociais (Dorothy Stang, Gildo Rocha, Marcelo Freixo, etc). Creio que a auto-defesa por meio da violência é a maneira concreta com a qual podemos nos defendermos de um sistema que não tolera divergência e contestação. Igualmente, numa situação revolucionária, a burguesia se utiliza de todos os métodos disponíveis a seu alcance para nos impedir, inclusive matar, estuprar e torturar – me parece claro que o mínimo que os trabalhadores podem fazer para se defender é se armar, nesses casos. Eis o uso da violência defendo.

Não sou a favor de matar alguém por sua posição política nem por motivos triviais. Sou parte da linha política de tradição Trotskista, de Trotsky e Lênin, que defendiam o direito de livre-expressão da direita e da burguesia dentro do próprio socialismo: a classe trabalhadora é quem deve escolher o que quer ler e concordar ou não. Somos ferrenhos defensores da democracia operária, com assembléias, congressos e várias formas de democracia direta como instrumento para concretizá-la. Nos congressos da ANEL, por exemplo, qualquer estudante pode escrever uma tese ou contribuição para o congresso; em mobilizações pelo passe-livre no Rio, defendemos da polícia um militante de uma organização que nos odeia e difama, mesmo tendo desacordo com sua política; fui contra o fechamento da RCTV na Venezuela e não sou chavista; sou a favor dos direitos politicos em Cuba, etc. Nós Trotskistas, fomos perseguidos, presos e mortos por mais de 100 anos, por, dentre outras coisas, defender isso – muitas vezes inclusive por aqueles cujo direito de expressão e organização defendemos.

Não sou integrante das Farc, ao contrario do que insinua Wellington, que nem considero verdadeiramente revolucionária nem socialista, nem sou guerrilheirista, nem Stalinista. Fui membro do PSTU por 3 anos, que é uma seção nacional da organização internacional chamada Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional; que defendem que a revolução será feita através da mobilização e auto-organização democráticas dos trabalhadores e oprimidos. Até hoje, 4 anos depois, os apoio e só saí por problemas pessoais. Eis as minhas conexões políticas.

Além de me atacar, ele também atacou o conjunto da comunidade e, por isso, é importante ressaltar que o que ele aponta como radicalismos e fascismo é meramente opinar coisas como “machismo é ruim”, pelo critério de qualquer julgamento de valor e sua conseqüente tentativa de exposição em contraposição a outra opinião é, necessariamente, opressora e fascista.

Na concepção dele, qualquer concepção que se diga correta é necessariamente autoritária, por que parte da idéia de que a realidade não existe. O problema é que isso torna toda e qualquer concepção autoritária por natureza, inclusive a dele (o que pôde ser demonstrado pelas atitudes que o levaram a ser excluído) - mas ele e os pós-modernos, que compactuam com essa posição, geralmente não estendem essas análises a si mesmos.

O que se percebe na comunidade é, ao contrario, um amplo clima de respeito e aceitação, braços abertos para os novos e liberdade de expressar qualquer opinião sobre os temas. E Creio que a coordenação queira que isso se mantenha.

Para além disso, vem o que é mais grave: a ameaça. Essa ameaça pode ser entendida claramente quanto à minha pessoa, mas por falar de “radicalismos” e “extrema esquerda”, se estende a vários outros membros do grupo.

Isso é algo muito grave e deve ser levado a sério. Não foi apenas uma forma de nos pressionar ou amedrontar, já que foi enviada por mensagem privada para várias pessoas do grupo, inclusive eu. Isso é claramente uma expressão de perseguição política, aproveitando-se dos cargos ocupados por seus parentes (sociologicamente, “Você sabe com quem está falando?”) para intimidar e potencialmente perseguir pessoas exclusivamente pela sua posição política. Isso é um caso grave de ameaça e intimidação, bem como de potencial repressão política. É preciso que isso se torne público em prol de defender a mim e a outros membros do grupo que podem se tornar alvos de ataques ou formas de intimidação. Chamo todos a se solidarizar conosco frente a essa situação.

Ele também diz, ao final, que militantes não são poliamoristas e estão ali com outros objetivos” e alerta para que se tenha “cuidado”. Além de ser uma forma de estimular a desagregação do grupo, bem como a desconfiança em nosso interior, tudo baseado meramente em posições políticas, esta afirmação encontra-se absolutamente equivocada.

Sou Poliamorista há cerca de 8 anos, já tive mais de 30 relacionamentos sob esse modelo e já fui e pretendo voltar a ser um militante de várias coisas, inclusive do Poliamor. Não há qualquer contradição entre ser militante de qualquer causa e ser poliamorista, assim como nao há qualquer contradição entre ser membro de um partido e ser ativista de qualquer luta estudantil, popular, sindical, etc.

Ter um projeto político mais amplo faz parte de se posicionar sobre a sociedade, que é algo que creio todos nós deveríamos fazer; organizar-se com outros em função delas é parte legítima da liberdade de organização e de expressão. Quem proibia isso e tentava estimular a desconfiança sob esse critério foram os militares da ditadura e os diversos grupos de extrema direita, pois são contra a liberdade de expressão e de organização.

Qualquer militante pode ser poliamorista e muitos inclusive serão e são poliamoristas pelas conseqüências de suas conclusões políticas feitas durante a militância (como foi o meu caso) e essa é uma forma tão legítima quanto as outras de tornar-se poli ou interessar-se pela proposta .

Ninguém ali é um monogâmico assumido que entrou lá apenas para incidir politicamente, pois isso sim seria desrespeito às regras da comunidade; somos todos polis ou pessoas que têm interesse de conhecer e saber se tornar-se-ão ou não, ou mesmo para aprender a como se tornar polis. Todos têm o direito legítimo de participar, independente de suas posições políticas. Muito fascista de nossa parte, aliás.

Gostaria aqui de louvar também a atitude da Coordenação da Pratique Poliamor Brasil, que conduziu muito bem todo o processo, fazendo todo o possível para preservar o grupo sem perder de vista a busca por evidências e provas, bem como as liberdades dos seus membros.

Aproveitando para esclarecer o caráter do grupo, ele é parte dos meios de comunicação da Rede Pratique Poliamor Brasil. A PPB tem como intenção agregar poliamoristas e pessoas que simpatizam com o Poliamor sob os valores de apoio, conhecimento e militância. Poliamor é o estilo de vida em que se permite manter mais de uma relação amorosa, profunda e estável com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, com o consentimento de todos os envolvidos.

Mensagem de Wellington: https://www.facebook.com/note.php?note_id=335093939838452

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